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domingo, 5 de maio de 2019

POPULAÇÃO, NUNCA FOMOS TANTOS



O planeta tem 7,6 bilhões (seis bilhões[sic] Dados do ano da publicação) de moradores e, em 50 anos, pode passar dos dez bilhões. Para manter a casa em ordem será preciso ter menos filhos, investir em educação e distribuir melhor os recursos


A cada segundo que você demorar lendo esta reportagem, 4,3 bebês estarão nascendo em algum lugar do planeta. Serão 258 nascimentos por minuto, 15 480 por hora, 371 520 por dia. Daqui a um ano, mais de 130 milhões de pessoas estarão se somando aos atuais 6,1 bilhões, segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU), todas competindo por espaço, comida e água – e produzindo lixo. Se você acha que isso é motivo de preocupação, acertou.
Alguém que pudesse se lembrar da vida no ano 10 000 a.C. provavelmente sentiria saudade daqueles tempos. A população mundial não passava de seis milhões de pessoas e crescia ridículos 0,008% ao ano. Não havia congestionamentos, filas ou burocracia, muito menos poluição, efeito estufa, animais em extinção e outros distúrbios da natureza provocados, direta ou indiretamente, pela proliferação da espécie humana. Em compensação, quem conseguia viver mais do que 20 anos, média de vida daquela época, podia ser considerado um sortudo. Muito tempo depois, no ano de 1750 da nossa era, alcançar os 27 anos ainda era motivo de comemoração. Hoje, porém, enquanto a população mundial aumenta a uma velocidade de 1,3% por ano – ou novos 77 milhões de pessoas -, a expectativa de vida mundial chega a 65 anos. Ou seja, além de sermos cada vez mais numerosos, conseguimos viver mais tempo, exigindo e consumindo mais recursos do planeta.
O fantasma da escassez de alimentos, que, no século 18, levou o inglês Thomas Malthus a formular seu Princípio da População, defendendo a impossibilidade de a produção mundial acompanhar o crescimento da população, hoje se revela um tema polêmico. Segundo estimativas da Food and Agricultural Organization (FAO), da ONU, a produção global de alimentos nas próximas décadas deverá continuar crescendo mais rápido que o consumo. Apesar disso, mais de um bilhão de pessoas em todo o mundo continuarão passando fome, não por falta de recursos naturais, mas como conseqüência de fatores econômicos, políticos e sociais, como a má distribuição de renda. “O problema não está relacionado à quantidade de bocas a serem alimentadas, mas à falta de dinheiro para comprar os alimentos”, explica Roberto Luiz do Carmo, pesquisador do Núcleo de Estudos de População (Nepo) da Unicamp.
De acordo com estimativas da ONU, em 2050 a população mundial deve ficar entre 7,9 e 10,9 bilhões, com maior probabilidade de atingir um patamar médio, 9,3 bilhões. Números astronômicos, mas que pouco significam vistos isoladamente. “O fato de existirem sete ou dez bilhões de pessoas não representa por si só um perigo para o planeta”, afirma Heinz Dieter Heidemann, professor do Departamento de Geografia da Universidade de São Paulo. “O impacto humano no planeta não é apenas conseqüência direta da quantidade de gente, mas principalmente dos danos ambientais causados para produzir o que as pessoas necessitam.”
O que pode ser feito
Estabilizar a população mundial depende basicamente de desencadear, nos próximos anos, uma verdadeira revolução no comportamento reprodutivo dos países em desenvolvimento. Se, nas décadas passadas, países como Índia, China, México e Brasil, entre outros, recorreram a agressivos programas de contenção da natalidade, incluindo esterilização em massa para diminuir o crescimento populacional, hoje existe um consenso de que a mais eficiente medida para esse controle é promover o acesso da população à educação, inclusive sexual.
O Fundo Populacional da ONU, criado em 1969, vem promovendo encontros mundiais para discutir propostas de como levar informações sobre planejamento familiar às populações dos países em desenvolvimento. Durante a Conferência Internacional Sobre População e Desenvolvimento (ICPD), realizada no Cairo em 1994, 180 países avalizaram um plano de ação que garante o direito de os casais decidirem o tamanho da sua prole, sem nenhum tipo de coerção. Nesse programa, os países se comprometem a traçar políticas sociais que, até 2015, proporcionem a homens e mulheres noções de métodos contraceptivos, cuidados pré-natais e prevenção de doenças sexualmente transmissíveis. O cumprimento dessas metas foi avaliado em 1999, em uma sessão especial da Assembléia[sic] Geral da ONU, batizada de ICPD+5.
Paradoxalmente, enquanto os países menos desenvolvidos procuram conter o crescimento demográfico, o Primeiro Mundo vive uma situação oposta: o declínio populacional. Em diversos países europeus, a taxa de fertilidade é de apenas 1,5 filho por mulher, enquanto os demógrafos afirmam ser necessária uma taxa de fecundidade de 2,1, no mínimo, para manter a força de trabalho nos mesmos patamares de 1995 sem ter de abrir as portas para os imigrantes – possibilidade que provoca verdadeiro pavor entre os europeus. Só para ter uma idéia, no ritmo atual, até 2050 a Espanha e a Itália sofrerão uma redução populacional de 21% e 25%, respectivamente.
A solução para países como esses é incentivar os casais a procriar. Para isso, a Suécia, que, atualmente, preside a União Européia, sugeriu aos outros membros a implantação de um programa social baseado em seu próprio modelo, que inclui licença-maternidade de 12 meses (ampliada para 13 meses a partir de 2002) e ajuda financeira mensal de 100 dólares para cada filho, até os 18 anos. Graças a essa política, a Suécia será um dos poucos países europeus a ter, em meados do século 21, uma população maior do que a atual.
Outra questão crucial para o futuro da humanidade é avaliar até que ponto o desenvolvimento científico e tecnológico pode criar saídas para alimentar o maior número possível de pessoas e qual o custo ambiental disso tudo. O exemplo mais evidente são as manipulações genéticas para aumentar a produtividade de rebanhos e colheitas, que proprocionam alimentos mais baratos, mas cujo impacto ambiental ainda é desconhecido. “Junto com os cereais transgênicos podem estar sendo criadas mutações, como superpragas resistentes aos pesticidas”, diz Roberto do Carmo, da Unicamp.